
Você já parou para pensar como seria sua vida sem computador? Se você já tem um smartphone e não é jornalista (que precisa de teclados para escrever textos longos) já deve ter notado que usa cada vez menos o desktop ou notebook. Se a internet pode andar dentro do seu bolso, para que plugá-la na tomada?
Há anos os especialistas preveem e decretam a morte do PC. Não acredito numa morte iminente, não a médio ou curto prazos, mas cada vez mais ele ficará restrito a momentos de trabalho – e para o uso corporativo, no qual é impossível imaginar até a morte do e-mail, esse serviço que para os meros mortais começa a cair em desuso.
As casas estão ficando menores? A paciência com os fios acabou? O mundo sem fio chegou para ficar? A resposta para o fim do uso do computador como ele era é uma mistura disso tudo aí. A miniaturização das máquinas, somada à multiplicação da capacidade dos pequenos aparelhos levará a uma necessidade cada vez mais rara das grandes máquinas. Para quem abandonou o desktop, por exemplo, é impensável voltar atrás. É como pegar uma máquina de escrever depois de ter adotado um PC!
No Brasil, o movimento de abandono dos computadores ainda é lento porque as conexões wireless não são as ideais – e deve levar um bom tempo para que o cenário mude. O 3G chegou há anos e ainda não emplacou direito porque as operadoras investiram muito e ainda estão pagando o preço das licenças. E se você ainda não pagou por um pacote de biscoito, vai comprar outro mais gostoso por quê? A não ser que seja um irresponsável e que o biscoito valha muito a pena o investimento, diz a voz da sensatez que primeiro você tira o máximo proveito possível daquele biscoito que está em casa, antes de ir à caça de outro pacote na prateleira do supermercado. Mesmo que o tal biscoito seja muito, muito gostoso.
As telas ficam cada vez menores, mas as necessidades aumentam a cada dia. O que antes era apenas curiosidade – downloads de seriados e filmes, por exemplo – agora se mostra como item indispensável. O usuário adquire novos desejos e sonhos de consumo e quer ver satisfeito seu apetite. E se as máquinas menores são capazes de oferecer tudo aquilo (e muito mais) que as grandes sempre ofereceram, a troca é apenas uma questão de tempo.
O passo definitivo rumo a um mundo sem computador necessariamente dependerá de redes 3G ou 4G melhores e mais rápidas; da adoção de aparelhos com telas mais confortáveis; do uso de teclados mais confortáveis e anatômicos, mesmo que pequenos; da diminuição no preço dos equipamentos, o que no Brasil chega a ser piada; da cultura do “quanto menos espaço ocupa, melhor é”. Ou seja, há ainda muito aprendizado antes de se efetivar a cultura do micro “quase invisível”. Mas a indústria corre atrás e nos deixa sedentos – quem não sonha em carregar o computador na palma da mão (ou nos dedos), como sugere, por exemplo, a tecnologia Sixth Sense, apresentada ao mundo durante um TEDGlobal (TEDTalk disponível em http://tinyurl.com/ac4ees)? É ou não um sonho dourado?
No Brasil, no entanto, ainda há uma sobrevida interessante para os PC´s (notebooks, principalmente). Segundo a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica) o mercado de computadores pessoais totalizou 12 milhões de unidades vendidas em 2009, mesmo volume comercializado no ano anterior. Mas as vendas de desktops caíram 11% em 2009, em comparação com o ano de 2008 (de 7,70 milhões para 6,85 milhões de unidades). Já as vendas de notebooks, incluindo os netbooks, cresceram 20% (de 4,30 milhões para 5,15 milhões).
O relatório mostra uma sobrevida ao velho PC de guerra: em março deste ano, por exemplo, pegando apenas os números da Positivo – fabricante que mais vende no país - houve um salto nas vendas de 31,8% no primeiro trimestre de 2010, em comparação com o mesmo período de 2009. Tudo por conta das compras efetuadas pelo governo, que há tempos precisava renovar seu parque tecnológico. Até março deste ano, a Positivo vendeu 425,7 mil PC´s, contra 323,1 mil vendidos um ano antes. O preço, como todos sabemos, caiu: agora, em média, um PC sai por R$ 1.389, contra R$ 1.409 registrado em 2009.
Mas aqui é preciso avaliar outro movimento: a entrada em massa das classes C, D e E no mercado de computadores pessoais. O que não acontece nos países de primeiro mundo. Isso não significa, claro, que o PC não vai morrer para muitos early adopters, que já estão vivendo uma realidade totalmente desplugada. Pena que navegando na Web com velocidades ainda de terceiro mundo.